A mais tradicional fabricante de embalagens metálicas do país completa seu centenário com evolução e reinvenção constantes, acompanhando as demandas do mercado
Em 24 de junho comemora-se o centenário da Assembleia Geral que oficializou a fundação da mais tradicional fábrica de embalagens metálicas do Brasil, a CMP.
Em um país no qual 70% das empresas fecham suas portas antes de completar dez anos de atividade (segundo dados do IBGE), chegar ao centenário é uma raridade. No caso da CMP – originalmente batizada de Companhia Metalgraphica Paulista, com a grafia daquele tempo – é uma mostra do potencial e da resiliência dos empreendedores brasileiros, e de como a evolução e a adaptação a novas realidades são pontos essenciais para a longevidade das empresas.
A CMP começou no interior de Minas Gerais, em Andrelândia. O fundador, Lincoln de Azevedo, pertencia a uma família de fazendeiros e identificou a oportunidade de produzir galões e latas de manteiga, necessários para a conservação do produto numa época em que não havia geladeiras. Convidou um grupo de amigos e parentes para investir e colocou o negócio de pé.
Poucos meses após a fundação, decidiu transferir a fábrica para São Paulo, onde estava o maior mercado do país. Escolheu instalar a linha de produção no bairro da Mooca, onde permaneceria até 2013, quando a empresa mudou suas instalações para um complexo industrial com tecnologia de ponta em Cajamar, na Região Metropolitana. Em São Paulo, no bairro do Butantã, ficou a sede administrativa.
A história da empresa se entrelaça com a história da tecnologia de embalagens. Na época da fundação, boa parte do trabalho era manual, com máquinas simples, e a solda das latas era realizada com uma liga de chumbo, que seria banida anos mais tarde, quando se descobriu que a substância era prejudicial à saúde. Hoje a solda é feita eletricamente, sem o uso de substâncias químicas.
Em sua existência, a CMP sobreviveu a momentos que causaram a falência de tantas empresas. A Grande Depressão de 1929. A Segunda Guerra Mundial. Diversas crises econômicas brasileiras – e uma pandemia. Com o passar das décadas também foi mudando a composição acionária da empresa – os participantes minoritários foram vendendo suas cotas, e hoje ela pertence integralmente à família de José Villela de Andrade Neto, neto do fundador.
Durante esse século, reinvenção foi o nome do jogo. A CMP foi criada inicialmente para produzir latas para manteiga, embalagem que naquele tempo era muito moderna. Porém, quando vieram as embalagens de plástico, e a manteiga foi sendo trocada por margarina, esse mercado encolheu e a CMP se reinventou, passando a produzir latas para óleo de cozinha – de soja, milho e amendoim, entre outros. Só que, nos anos 90, os óleos vegetais passaram a ser vendidos em garrafas PET. A conclusão dos diretores da CMP foi de que a solução seria se reinventar novamente. O caminho veio na produção de latas para a indústria de tintas e vernizes, que hoje representam cerca de 70% da demanda da empresa.
Para aproveitar as oportunidades, a CMP investiu em novas unidades em diversos locais do país, onde havia demanda. Já teve fábricas em Morro Agudo (SP), Campo Grande (MS), posteriormente desativadas. Hoje, além de Cajamar (SP), possui uma unidade em Anápolis (GO), com foco em produção de latas para alimentos como tomate, milho e palmito. E a Módulo Rio, em Barra do Piraí (RJ), uma joint-venture com a Módulo Embalagens, outra grande empresa do setor.
Ao longo desses 100 anos já passaram pelos maquinários da CMP cerca de 10 bilhões de latas. Essa produção exigiu 800 mil toneladas de aço, entre as quais se calcula que cerca de 450 mil toneladas tenham sido recicladas. Para se ter uma ideia da dimensão dessa produção, calcula-se que ela exigiu cerca de 490 milhões de metros quadrados de folha-de-flandres, a chapa de aço usada como matéria-prima. É uma quantidade suficiente para cobrir duas vezes a superfície inteira do estado de São Paulo.
Para registrar a data – e a história da empresa, ao longo das quatro gerações que já passaram por sua gestão – a CMP lançou um livro contando sua saga desde a fundação até os dias de hoje. “Um centenário é uma data que merece ser comemorada com nossos colaboradores, parceiros e clientes, para relembrar tudo o que vivemos no passado e também projetar o futuro”, diz o presidente do Conselho de Administração, José Villela de Andrade Neto.
A empresa celebrou seu aniversário em um evento no dia 09 de maio, no Solar Fábio Prado, antigo Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A cerimônia, com 350 convidados, foi apresentada por Juliana Veiga e teve show da cantora Claudia Gomes. Com jantar preparado pela chef Morena Leite, do restaurante Capim Santo, ela reuniu representantes das maiores empresas do segmento de tintas e químicos do país, e alguns grandes players do segmento de alimentos, além de representantes de entidades do setor, como a Prolata e a Abeaço.